terça-feira, 20 de março de 2018

A princesa Down



            Vou começar contando como aprendi a contar historietas com uma menina riquíssima, branca, magrinha, de olhos verdes e fala mansa. Ela contava assim:
            “Era uma vez uma menina rica, que morava em uma mansão rica, com sua mãe rica, seu pai rico, sua empregada rica e seu cachorro rico”.
            “Era uma vez uma menina pobre, que morava em uma mansão pobre, com sua mãe pobre, seu pai pobre, sua empregada pobre e seu cachorro pobre”.
            Acredito que era seu melhor recurso para entender e explicar a vida e, por isso, em sua homenagem resolvi escrever o seguinte:
            Era uma vez uma menina feliz, uma princesa com síndrome de down, que vivia, sonhava e esperava por um grande amor. Um amor diferente que dava borboletas no estomago, mãos suadas, perda de apetite, aceleração no peito, rosto enrubescido... Um amor diferente do que recebia de sua mãe e de seu pai.
            A princesa não tinha servos, escravos ou empregados, mas era cercada de amigos inseparáveis. Sua nobreza não tinha doutores, enfermeiros ou professores, mas era abençoada por cuidadores e mentores.
            Uma tarde, ela furou o dedo em uma roca, doeu muito, porém a princesa não morreu nem dormiu um sono de cem anos.
            Na sua decima quinta lua, durante o baile, conheceu um monstro e não se apaixonou, não se perdeu nem enviada para longe de tudo, resistiu e continuo vivendo, sonhando e esperando o grande amor, que pode estar aqui, ali, lá, lá, à espreita ou ao mar.


Jorge Barboza
Colunista social. Escritor. Revisor

sábado, 10 de março de 2018

Boas Cercas



            Quando recentemente ouvi essa expressão “boas cercas fazem bons vizinhos”, achei que havia não compreendido. Depois, reconheci que seu significado era muito profundo. Por alguns instantes ainda balancei com o que diz nossa cultura: “amigos, amigos, negócios á parte”.
Com certeza não misturar os negócios e as amizades seria um ideal de vida, mas passamos mais de quatro horas trabalhando e, consequentemente, estabelecendo relações intrapessoais e extras pessoais curtas ou duradouras para “as cercas” de forma clara e, assim, evitar que os limites também não sejam desrespeitados.
Mas como estabelecer as cercas saudáveis, ou seja, os limites quando é inevitável a combinação amizade e negócios?
Acredito que seja uma aprendizagem para a vida toda. Aprendi que os limites devem ser estabelecidos no início das relações, continuado progressivamente, e jamais esquecidos com a interação fora e dentro das empresas.
A comunicação em todos os casos é essencialmente, não existe a possibilidade de conhecermos nossos valores, nossa ética e nossos limites sem apresenta-los. Se não reconhecemos os limites, como iremos estabelecê-los?
E, muitas vezes, se não estamos conscientes desta prática ética não percebemos o desrespeito e, depois, só depois consertamos os muros...
Como as pessoas costumam dizer “devemos fazer aos outros, o que gostaríamos que fizessem pela gente” – simplesmente porque somos todos diferentes. A honestidade deve ser nossa bussola para todos os aspectos das nossas vidas. Não funciona tratar todos os funcionários de forma igual, assim como não funciona tratar os amigos e até os filhos de forma idêntica...
Da mesma forma, temos a opção de afastar aquelas relações que não nos fazem bem e aprender a amar essas pessoas à distância. Muitas vezes, o afastamento é a opção mais ética que temos de libertá-las e nos libertar de relações em que todos saem perdendo.
Comunicar educadamente e respeitosamente é ainda o melhor procedimento para manter “boas cercas” e estabelecer “bons vizinhos”.

Jorge Barboza
Escritor e Colunista Social