segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Psicopata

Não sei exatamente quando comecei as palestras para jovens e adultos, pois sempre ganhei suficientemente bem no consultório atendendo casais, donos de pequenas empresas e, principalmente, chefes de família...
Eu acredito que ainda cursando psicologia, eu achava importante o serviço assistencial como forma de propaganda, marketing pessoal, interpessoal ou transpessoal, enfim, "dar aos pobres e emprestar para Deus". "São todas estas palavras que as pessoas usam sem nenhum significado preciso".
Nunca acreditei que todas pessoas tem tendências criminais, passionais ou impulsionais, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o termo oficial para designar um psicopata ou sociopata é personalidade antissocial ou dissocial... Historicamente é tudo muito confuso.
Sempre fugi dessas polêmicas, no meu amago, no mais profundo dele e da minha mente racional nada emocional, eu sabia que tocar nesses temas em palestras ou entrevistas podia gerar perdas irreparáveis. Talvez assim eu controlava meu ego... Mais chega um tempo que você não pode mais fugir... Eu era um rebelde aparente.
Eu gostava de definir os crimes como na Idade Média: nato, louco, ocasional, habitual e passional. Que o criminoso é apenas uma pessoa normal nervosa! Usando esse critério, seria muito fácil diagnosticar incorretamente a pobre pessoa, tipos de razões, incluindo crimes passionais, como amor ou ciúme...
Até que em uma madrugada, dessas que você não dorme, dessas que se tem insonia, por voltas das três da manhã, alguém te liga é diz calmamente: "sociopatia é quando o criminoso mata o sócio, psicopatia é quando a gente mata o psicologo"...
Por alguns instantes, não entendi a ameaça, não quis entender, não desejei expor minha fragilidade. "São todas estas palavras que as pessoas usam sem nenhum significado preciso". Foi abduzido de meu discernimento e resolvi comer algo, beber algo, já tremia nervosamente, já que não sentia a vontade pra perdoar meus pecados nem pra confessar minhas virtudes, estava só, me sentia abandonado...
Surgiu uma luz no fim do túnel, psicopatas fanáticos, ou sádicos, ou passionais, não procuram médicos, respirei aliviado por alguns minutos, até que lembrei que eu não sou médico, estava desprotegido na minha casa, eu era psicologo e podia ser a próxima vítima, porque resolvi falar a diferença entre sociopata e psicopata no dia anterior e para tanta gente, eu podia ter escrito algo inteligente, usando de artifícios, subterfúgios, um pseudônimo, qualquer coisa que não causasse esse tipo de dor, descontrole alheio, agora o sol demorava a nascer, na cidade não se ouve galos cantar anunciando a Aurora e o medo mais uma vez constrangia. Onde posso me esconder? Mas até quando? Resolvi chorar, eu não tinha testamento, eu sou jovem, sempre se é jovem demais...

Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social