Naquela tarde não tinha chuva nem vento que adiantasse
o parto, mas o bebê estava quieto demais na barriga de Francisquinha, era o
quinto filho indesejado, parecia uma lenda africana em São Bernardo do Campo.
Ela esperava sua mãe e sua tesoura como nos outros partos...
A jovem mãe podia ter abortado o filho, mas era muito
beata para isso, só Deus pode tirar a vida. Ela tinha herdado da mãe: a arte
cultivar as ervas; o poder de benzer bichos, plantações e pessoas; as rezas que
fecham os corpos e abrem os caminhos...
Ela casou criança sem querer e sem pestanejar para
livrar-se da maldição de ver espíritos, transportar objetos com a força do
pensamento, ter revelações nos sonhos, materializar coisas com ovos, pairar no
ar dormindo, bilocação, dejavu, premonição, viagem astral... Casamento humilde
que o Criador não aceitou para transmitir a herança paranormal.
Dona Severa estava atrasada, pois Sergipe era longe
para São Paulo, mesmo de jipe.
A bolsa rompeu e Francisquinha começou a gritar:
- Mais uns minutos, meu filho, você não pode nascer
sem minha mãe... Mãe onde você está?
Será que Deus abandonou a jovem mãe? Será que tudo era imaginação? Será que o tempo parou? Era o fim ou um novo principio?
A criança nasceu com o pescoço enrolado com o cordão
umbilical, roxo, roxinho, sem ar, sem vida, nas mãos e no choque de sua mãe.
Dona Severa surgiu em paz e cortou o cordão, não disse
nada e colocou o neto na pedra da pia e disse:
- E do que vamos cuidar agora...
Surgiu uma borboleta vermelha e pousou sobre o bebê,
bateu suas asas, a criança tossiu e chorou, a borboleta voo e o tempo voltou...
Jorge Barboza
Escritor e Colunista Social
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