Era uma vez uma Maria Gato
grávida de seu terceiro filho, morena clara, sorriso singelo, corpo cansado,
morava em um barraco colorido no alto morro. Um lugar de vista privilegiada,
onde a natureza deixava cantar os sábias e as plantas crescer largamente...
Um domingo, Dona Gato ganhou
uma rosa branca de uma vizinha, como tudo que ganhava cuidou com carinho e
plantou do lado direito da porta do barraco.
Esqueci de falar, Maria
estava com a grana curta, o estrito para o necessário, ela tinha um desejo
enorme de tomar leite em um pires, saliva só em imaginar o leite caindo delicadamente
na louça pequena em forma de prato pequenino... Sonhava com isso e às vezes, só
às vezes, ficava triste, não tinha dinheiro para um pequeno luxo, a maioria das
coisas do barraco precisava de consertos, de reparos, de remendos, de troca por
novo... Nesse tempo peças avulsas eram caríssimas e ainda não haviam as lojas
de um real ou coreanos como hoje em lojinhas em cada esquina, bairro, rua...
No dia seguinte, uma
segunda-feira, apareceu uma doce velhinha na porta de Maria Gato e ela desejava
uma muda da rosa. A rosa branca virou uma trocha enorme de flores da noite para
o dia e sem pestanejar a gentil grávida cortou um galho da roseira e deu pra
velhinha doce que agradecida tirou de um bolso do casaco marrom um pires e
começou sua história:
- Quando eu era moça, muito
moça, eu não era muito bandoleira, casei com “um deus que se deseja e se teme
ao mesmo tempo”, fui fiel e ele foi fiel comigo. Todo dia 12 de cada mês comemorávamos
nosso amor e nossa paixão com um jantar à luz de velas e uma rosa branca no
centro da mesa, tivemos dez filhos, vinte e quatro netos entre tantos outros
bisnetos e até tataranetos... Mas recentemente ele ficou doente, morreu, assim
a aprendi a ficar só, ou quase, aprendi a tricotar, costurar e procurar uma
rosa branca para substituir a xícara que quebrou com meu amor, meu eterno
marido, presente de meu casamento com mais de cinquenta anos, prova que o amor
resiste ao tempo de “um deus que se deseja e se teme ao mesmo tempo”.
Depois da história, Dona
Gato matou seu desejo por leite em um pires e a doce velhinha voltou a
sorrir...
Jorge
Barboza
Colunista
Social. Escritor. Revisor.
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