sábado, 20 de janeiro de 2018

Nu


           Infelizmente o nu chegou aos redores de nossos museus.
Você deve estar se perguntando: Não existem estatuas e pinturas de nu artísticos dentro dos maiores e menores acervos nacionais e internacionais de Belas Artes pelo Mundo?
Sim, há. Mas o que vou relatar não se trata de uma imagem parada ou estática em gesso, madeira, cerejeira, garapeira, pinho, cedrinho, cerâmica, argila, terracota, reboco, taipa de pilão, pau-a-pique, terra crua, metal, bronze, ouro, prata, chumbo, aço, cimento, granito, mármore, pedra sabão...
Estava tirando fotos da Catedral da Sé, em minha última excursão ao Caixa Cultural, de uma de suas magistrais janelas do sexto andar, quando vi em um dos quartos do hotel amarelo em frente ao espaço cultural, um casal nu!
Não era amor, nem sexo, era um casal nu pousando para fotos na cama, na poltrona, no chão, no parapeito da janela do hotel...
Eles não tinham noção dos olhares de fora, exatamente, do Caixa Cultural... Houve um burburinho entre outros visitantes da exposição, seguranças correndo fechando as cortinas, que davam margens ao espetáculo nu, um monte de explicações desconexas, rostos corados, muitas hipóteses, risadinhas, muito falatório, gargalhadas, muitas dúvidas, por fim, minha visita acabou antes do que eu esperava, não estava mais interessado na mostra.
As sombras tomaram o andar como se nu fosse o inimigo, proibido, perigoso, as obras do Museu da Caixa estava envergonhado, constrangido, tímido, preocupado, eu estava com as obras, mas de outro lado sereno, tranquilo, a vontade com roupa, do que vi e entendi, blá blá blá, eu cansei das cortinas fechadas, das pessoas falando, será que as pessoas não entendiam mais nada e o nu assumiu tudo?
Passei as mãos na cabeça, desci o elevador, balbuciei algo a assessorista do elevador, pedi minhas coisas a recepcionista na chapelaria, carimbos nos folders, corri para fora, para o metrô, para longe, finalmente acabei com as tormentas, os rumores e o nu tomou a proporção que devia ter, um momento de intimidade longe de tantos olhares e tantas bocas, um filme que se escolhe assistir, uma revista que se deseja rever, um local gostoso como o desejo...


Jorge Barboza
Escritor e Colunista Social


Nenhum comentário:

Postar um comentário