quinta-feira, 10 de março de 2016

A loucura de Nancy

Quando comecei a escrever efetivamente foi o teatro que encheu minhas ideias e minhas estantes. Lia alucinadamente Shakespeare, Brecht, Nelson Rodrigues, Renata Pallottini, Chico Buarque & Ruy Guerra. As palavras jorravam passando por mim e a loucura era um obstáculo que gerou o seguinte texto de meu livro “Barbozeira: Antologia Textual”:
Gritando no corredor principal, como caminhando pela rua, vem um homem com vários sacos, saias, aparência estranha. Seu olhar é de extrema dualidade, sátira e ódio juntos. Olha uma mulher lavando a louça e começa a gritar:
– Troca-se moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por novas!
            A mulher para, pega uma velha moeda no bolso do avental, por uns instantes deslumbra a ideia louca de troca, enquanto o homem no meio da plateia se apresenta:
– Toda história quando os vilões não morrem, me usam para castigá-los.  Quem sou eu? Quem sou eu? (pergunta para si) Quem eu sou? Loucura! Sou a mesma de ontem, presente no hoje, e que não morre no futuro do amanhã! Devem estar se perguntando por que não sou uma mulher como o nome sugere. A lógica não se aplica aqui. Tenho estilo! Mas hoje será a minha vingança a todos autores que me utilizaram mal. Não serei o vilão! Mas o prêmio aos heróis. Troca-se moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por novas!
            A mulher chama a loucura para si:
– Senhor, senhor aqui!
– Quer trocar sua moeda velha por uma nova?
– Sim, por favor.
 – Tem certeza, ela pode lembrar de algo importante que viveu você?
Nancy respira profundamente e responde:
– É verdade, mas como as águas debaixo de uma ponte... Passou.
– Tem certeza?
 – Sim, vamos deixar os mortos dormir em paz.
 – Quando falamos em mortos, é que sua lembrança é forte, isso é uma fuga interessante...
– Não é fuga, não há vida após a morte e leve essa moeda daqui!
 – É verdade! Mas de médico e louco todo mundo tem um pouco!
– O que?
            Uma jovem alegre, entra nesse momento no salão, onde estranha ver a amiga Nancy falando sozinha, preocupada se dirige a ela com delicadeza:
– O que está fazendo Nancy?
– Não vê que estou falando com esse mendigo.
 – Que mendigo?
– Esse homem a minha frente, de trajes pobres.
– Calma, está cansada por causa de estar trabalhando muito!
Nancy responde irritada:
– Helen! Não estou cansada, preste atenção! Não vê esse trapo humano!
            A loucura move a cabeça negativamente, então golpeia Nancy, de tal modo que ela fica zonza e cai... Loucura sai sem deixar rastros enquanto Nancy se ergue num salto e grita:
– Maldito volte aqui se for homem, venha que eu te corto!
– O que isso amiga? Vamos entrar eu vou chamar um médico.
– Helen, você não vê, que eu fui atacada por aquele homem e nem sei por quê?
– Bem qualquer um que fosse chamado de mendigo, trapo, com certeza reagiria, mesmo que pedindo ajuda.
            Elas saem e a loucura volta com seu discurso...

– Quem é mais louca aquela que acredita no que vê ou aquela que acredita entender tudo? Troca-se moedas velhas por novas! Trocas moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por novas!


Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social

Nenhum comentário:

Postar um comentário