Quando comecei a escrever
efetivamente foi o teatro que encheu minhas ideias e minhas estantes. Lia
alucinadamente Shakespeare, Brecht, Nelson Rodrigues, Renata Pallottini, Chico
Buarque & Ruy Guerra. As palavras jorravam passando por mim e a loucura era
um obstáculo que gerou o seguinte texto de meu livro “Barbozeira: Antologia
Textual”:
Gritando no corredor
principal, como caminhando pela rua, vem um homem com vários sacos, saias,
aparência estranha. Seu olhar é de extrema dualidade, sátira e ódio juntos.
Olha uma mulher lavando a louça e começa a gritar:
– Troca-se moedas velhas por
novas! Troca-se moedas velhas por novas!
A
mulher para, pega uma velha moeda no bolso do avental, por uns instantes
deslumbra a ideia louca de troca, enquanto o homem no meio da plateia se
apresenta:
– Toda história quando os
vilões não morrem, me usam para castigá-los.
Quem sou eu? Quem sou eu? (pergunta para si) Quem eu sou? Loucura! Sou a
mesma de ontem, presente no hoje, e que não morre no futuro do amanhã! Devem
estar se perguntando por que não sou uma mulher como o nome sugere. A lógica
não se aplica aqui. Tenho estilo! Mas hoje será a minha vingança a todos
autores que me utilizaram mal. Não serei o vilão! Mas o prêmio aos heróis.
Troca-se moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por novas! Troca-se
moedas velhas por novas!
A
mulher chama a loucura para si:
– Senhor, senhor aqui!
– Quer trocar sua moeda
velha por uma nova?
– Sim, por favor.
– Tem certeza, ela pode lembrar de algo
importante que viveu você?
Nancy respira profundamente
e responde:
– É verdade, mas como as
águas debaixo de uma ponte... Passou.
– Tem certeza?
– Sim, vamos deixar os mortos dormir em paz.
– Quando falamos em mortos, é que sua
lembrança é forte, isso é uma fuga interessante...
– Não é fuga, não há vida
após a morte e leve essa moeda daqui!
– É verdade! Mas de médico e louco todo mundo
tem um pouco!
– O que?
Uma
jovem alegre, entra nesse momento no salão, onde estranha ver a amiga Nancy
falando sozinha, preocupada se dirige a ela com delicadeza:
– O que está fazendo Nancy?
– Não vê que estou falando
com esse mendigo.
– Que mendigo?
– Esse homem a minha frente,
de trajes pobres.
– Calma, está cansada por
causa de estar trabalhando muito!
Nancy responde irritada:
– Helen! Não estou cansada,
preste atenção! Não vê esse trapo humano!
A
loucura move a cabeça negativamente, então golpeia Nancy, de tal modo que ela
fica zonza e cai... Loucura sai sem deixar rastros enquanto Nancy se ergue num
salto e grita:
– Maldito volte aqui se for
homem, venha que eu te corto!
– O que isso amiga? Vamos
entrar eu vou chamar um médico.
– Helen, você não vê, que eu
fui atacada por aquele homem e nem sei por quê?
– Bem qualquer um que fosse
chamado de mendigo, trapo, com certeza reagiria, mesmo que pedindo ajuda.
Elas
saem e a loucura volta com seu discurso...
– Quem é mais louca aquela
que acredita no que vê ou aquela que acredita entender tudo? Troca-se moedas
velhas por novas! Trocas moedas velhas por novas! Troca-se moedas velhas por
novas!
Jorge
Barboza
Escritor
e Colunista Social
Nenhum comentário:
Postar um comentário