terça-feira, 20 de setembro de 2016

Pitangueira

Antes da segunda grande enchente de minha vida, eu colhi e comi muitas pitangas na avenida Bom Pastor, na altura do 345.
Lá vi o amor florescer e morrer...
Todo mês de agosto...Ou era julho? Vi a pitangueira em flor, florida, coberta de florzinhas branquinhas e a promessa de nova colheita escarlate suculenta: doce como a infância deve ser...
Eu era inocente, muito inocente e a vida passava vagarosamente com pequenos terríveis medos das chuvas de março.
A primavera trazia fartura de frutas e o fim do frio de longos tempos de estiagem...
As pitangas eram pequena aboboras morangas vermelhas como sangue, de pequena semente branca dura e doce sabor como mel. Havia bichos de pitangas nas pouquíssimas frutinhas podres caídas e esquecidas por engano do vento ao pé da árvore.
As melhores frutinhas se escondiam no alto, subindo na árvore, passando o muro e chegando na laje sem pisar nas telhas e telhados da casa 345.
Passei muito tempo bom colhendo pitangas, depois da escola, antes das lições de casa com o jantar e antes da noite.
Eu era tão jovem que não queria mudar o mundo e alternava as brincadeiras com os estudos.
Se eu pudesse roubava aquela pitangueira pra mim, mas a segunda grande enchente de minha vida acabou determinando seu fim, mas isto é outra historieta...
O que sempre lembrarei é que as pitangas eram escarlates suculentas que vale a pena passar a tarde sem pressa e sem documento. colhendo e comendo... As frutas vermelhas da minha quase adolescência...

Jorge Barboza

Colunista Social. Escritor. Revisor.

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