Antes da segunda grande
enchente de minha vida, eu colhi e comi muitas pitangas na avenida Bom Pastor,
na altura do 345.
Lá vi o amor florescer e
morrer...
Todo mês de agosto...Ou era
julho? Vi a pitangueira em flor, florida, coberta de florzinhas branquinhas e a
promessa de nova colheita escarlate suculenta: doce como a infância deve ser...
Eu era inocente, muito
inocente e a vida passava vagarosamente com pequenos terríveis medos das chuvas
de março.
A primavera trazia fartura
de frutas e o fim do frio de longos tempos de estiagem...
As pitangas eram pequena
aboboras morangas vermelhas como sangue, de pequena semente branca dura e doce
sabor como mel. Havia bichos de pitangas nas pouquíssimas frutinhas podres
caídas e esquecidas por engano do vento ao pé da árvore.
As melhores frutinhas se
escondiam no alto, subindo na árvore, passando o muro e chegando na laje sem
pisar nas telhas e telhados da casa 345.
Passei muito tempo bom
colhendo pitangas, depois da escola, antes das lições de casa com o jantar e
antes da noite.
Eu era tão jovem que não
queria mudar o mundo e alternava as brincadeiras com os estudos.
Se eu pudesse roubava aquela
pitangueira pra mim, mas a segunda grande enchente de minha vida acabou
determinando seu fim, mas isto é outra historieta...
O que sempre lembrarei é que
as pitangas eram escarlates suculentas que vale a pena passar a tarde sem
pressa e sem documento. colhendo e comendo... As frutas vermelhas da minha
quase adolescência...
Jorge
Barboza
Colunista
Social. Escritor. Revisor.
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