Muitos anos atrás quando ainda
não se falava em reciclar e em ecologia, havia um reino pacato que sua constituição
prezava com descontos de impostos a reutilizar os materiais variados. Para dar
exemplo, sua rainha fez atrás do seu trono uma linda nave de garrafas coloridas
de vidro e assim começa nossa saga...
Ao colocar a última garrafa verde em sua nave, a rainha
sentiu surgir um aroma doce, suave, bom, agradável, delicado como um vinho
maduro, gostoso, saboroso de uvas recém colhidas, juntas lentamente, quase
amassadas no início da confecção do mais famoso vinho de sua principal adega...
Meses a fio esperava por este espetáculo vitral que
coincidiu com o parto de sua filha, a princesa autista, linda como só ela...
Aos cinco anos de idade, a princesinha ouvia um miado,
uma campainha, um latido ou qualquer som absolutamente distante ficava parada,
pensando, lendo, digerindo, devorando, degustando os sons juntos ou separados
até bater palmas e colocar todos os sons nas suas ideias e, consequentemente,
no lugar na sua mente...
Aos sete anos, ela ficava por horas sem piscar, sem
pestanejar, sem reclamar, sem fazer ruídos, sem espasmos, compenetrada nos
rodomoinhos e espirais dos modernos arranjos do castelo quase velho...
Com quinze, a princesa não quis baile nem festa, nem
recital, queria pintar tudo: portas, maçanetas, janelas, salas, quartos,
banheiros, cozinhas, jardins, tudo que via por perto do castelo.
Com certeza não havia tempo ruim, pois todo dia era um
dia bom para Princesa Autista guardar, colher, mostrar, recolher, reconhecer,
desenhar, costurar, rasgar, viver, morrer, para se reinventar sem algazarras,
sem guerras, só pelo simples prazer de fazer o bem sem importar com quem e
como...
Jorge
Barboza
Escritor.
Colunista Social.
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