sábado, 20 de abril de 2019

Rei morto é Rei deposto...

E finalmente, ele agarrou o cálice e deixou tombar o próprio coração, coisas de longe passavam pela sua cabeça, uma mosca insistia em fazer barulho, perigo-perigo, havia uma silenciosa ameça no ar, enquanto virava o líquido, ele tinha esperança que alguém o pára-se, as pessoas ignoravam sua atitude, o veneno ganhava poderosa velocidade, perdia a viscosidade, mudava de profundo negro para luminoso branco, translucido, transparente, incolor, corria do fundo do cálice para a próxima vítima, gota a gota, liquidamente lento...
Todos, os convidados, para cerimonia fatal do príncipe sabiam que nada devia sair do curso, uma fala, um gesto, um olhar, uma palavra, enfim, qualquer coisa que fosse entendida com alerta ao jovem da família real seria punido com a morte na hora... A guarda do festim diabólico fora escolhida e orientada pessoalmente pelo seu maior malfeitor, o atual rei, eles sabiam que o soberano sabia como ninguém condenar e armar um perigoso jogo de cartas marcadas...
Infelizmente, uma mãe, não podia deixar sua cria morrer assim, a Rainha, pegou o cálice do filho, um fino fardo, ela deixou cair sua apólice de seguro, já tinha perdido tudo, estava aflita, também tinha esperanças, um dia melhor, um governo melhor, um marido melhor, seu cunhado de forma escusa, estranha, afastou-a do bom senso, casou-se com ela pra cuidar dela e do filho, era uma promessa inacabada, ela pegou o cálice,  uma bala rompeu o silêncio e espatifou o cálice...
Todos correram, fugiram, a Rainha desmaiou e o rei caiu morto, um anonimo reprovou o rei, a guarda deixou a partir com alívio: mais um tirano morto!
Uma noite antes, a tropa escolheu um anonimo, um destes bem anonimo mesmo, vestiu com trajes finos, algo emprestado, algo rico, fino-finíssimo, nada vulgar ou comum, uma única chance, uma oportunidade perfeita: Rei morto é Rei deposto...
E o resto, você já leu e dever imaginar... Mais um tirano morto!


Jorge Barboza
Colunista. Escritor. Revisor.

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